Caco Barcellos registrou reunião onde beneficiários do Auxílio Brasil foram convocados, segundo moradores que aceitaram falar, para serem pressionados a votar em Jair Bolsonaro. Após entrevistas, nossa equipe foi alertada a deixar a cidade.
Caco Barcellos e Chico Bahia foram até Coronel Sapucaia, em Mato Grosso do Sul, na fronteira do Brasil com o Paraguai, para fazer um perfil dos eleitores da cidade, onde houve um empate entre Lula e Jair Bolsonaro no primeiro turno, e acabaram flagrando uma suspeita de assédio eleitoral.
Enquanto andava pela cidade para conversar com moradores sobre sua intenção de voto, a menos de 48 horas do segundo turno das eleições, a dupla viu uma concentração de pessoas em frente ao centro cultural e resolveu se aproximar. Os convocados para a reunião, sobre a qual ninguém queria falar ou sabia dizer o que era, eram beneficiários do Auxílio Brasil.
Ao ver Caco entrando no local, a assessora da secretária que falava veio a seu encontro e, ao ser questionada se a reunião teria a ver com a votação, afirmou hesitante: “Tem a ver de demonstrar o que o presidente e o governador estão fazendo pelas pessoas”.
Logo depois que a resposta foi dada, todas as pessoas que estavam no local se levantaram para ir embora. Quando Caco tentou entrevistá-las, um homem tentou impedi-lo bradando: “É melhor vocês ficarem na sua!”.
Em mesas, mulheres tinham planilhas com os nomes e dados das pessoas que compareceram. Uma outra pessoa, ao ser abordada, se recusou a falar e saiu andando e dizendo: “Eu não posso responder nada”.
Caco, ao encontrar a secretária que estava falando quando ele chegou ao local, também só teve respostas curtas e evasivas.
Uma senhora que mora ao lado do local onde acontecia a reunião revelou que ela já estava ocorrendo há três dias. “Antes não tinha essa reunião não. Disse que era para assinar o negócio do Bolsa Família. Aí ontem que eu ouvi falando que, quando acaba a reunião, o Rudi dá R$ 50 para cada um. Rudi é o prefeito daqui”, contou.
Encontramos o prefeito, Rudi Paetzold, em uma gincana entre escolas promovida pela Secretaria Municipal de Educação. Por lá, as perguntas também não foram bem recebidas.
Ainda na gincana, uma moradora da cidade falou sobre a suspeita de assédio eleitoral com a nossa equipe: “Eu fui. Chegamos lá; eles, sinceramente, falaram sobre o Auxílio Brasil, porém a parte foi só sobre política. Que teria que votar no 22, porque se não, no caso, não teria mais verba para vir para cá, né? Aí pararia com tudo: pararia de fazer o asfalto, as escolas. Você chega lá, se você está precisando… Vamos supor: você precisa para sobreviver o auxílio e o vale renda, você muda seu voto na hora com medo de perder o benefício. Pediram para colocar o nome, colocar o documento, o número de celular. Porque, no caso, esses nomes iriam lá não sei para onde. Para mim, aquilo foi uma pressão sobre as pessoas. Isso é promoção do prefeito, né?”
Horas depois dessa declaração, uma pessoa da cidade ligou para Caco para dizer que era perigoso continuar a reportagem na região. “Fiquei preocupado, extremamente preocupado. Eu sugeriria para vocês terminar a pauta o quanto antes. Se você quiser continuar aqui na cidade trabalhando, é o teu trabalho. É assim: sua conta e risco. Mas eu conheço bem aqui a cidade. É complicado”.
Fonte G1
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