Ação começou por volta das 16h30 no Centro, e teve a participação da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana.
A Polícia Civil de São Paulo realizou nesta sexta-feira (27) uma nova operação no ponto de concentração de usuários de droga da Cracolândia, no Centro de São Paulo. Moradores registraram a presença de um veículo blindado com atiradores de elite, além das viaturas.
A ação começou por volta das 16h30, e envolveu policiais do Garra, da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana (GCM). Dependentes químicos foram revistados na Rua Helvétia, na esquina com a Avenida São João (assista ao vídeo acima).
A nova operação no Centro acontece um dia antes da realização da Virada Cultural, que terá shows gratuitos entre sábado (28) e domingo (29) em palcos montados pela cidade, inclusive no Centro.
Desde quando foram retirados da Praça Princesa Isabel pela polícia, os usuários de droga já ocuparam diferentes endereços: a Praça Marechal Deodoro; a Rua Helvétia, entre a Rua Barão de Campinas e a Avenida São João, e também na esquina da Avenida São João com a Rua Frederico Steidel.
Na noite de quarta-feira (25), o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), disse que as autoridades têm a situação da Cracolândia “sob controle”, apesar das constantes migrações do chamado «fluxo», que têm tirado o sossego dos moradores dos bairros de Santa Cecília e Campos Elíseos.
Para Ariel de Castro Alves, advogado, especialista em direitos humanos pela PUC- SP e presidente do Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo, a questão da Cracolândia não pode ser resolvida sem uma grande oferta de programas sociais.
“As operações na Cracolândia viraram uma operação de guerra contra pobres e doentes. Uma ação marqueteira da prefeitura e do estado com fins políticos e eleitorais para, depois de tantos anos de omissão e corrupção policial, fazerem de conta que estão atuando pra resolver o problema”, afirmou.
Segundo o especialista, as operações de dispersão de dependentes químicos estão ampliando o problema e forçando a “proliferação de Cracolândias pela cidade”. «Os agentes de saúde e sociais reclamam que a dispersão e remoção o tempo todo do fluxo dificulta ainda mais o atendimento dos dependentes. E a constância da ação repressiva da polícia torna impossível os atendimentos.»
«A polícia passa o dia tocando os dependentes como se estivessem tocando bois», afirmou. «Todas as vezes que isso ocorreu anos atrás nunca teve resultados positivos, pelo contrário, o problema foi ampliado, além da disseminação de várias Cracolândias na região central de São Paulo.”
Ariel ressalta que as ações podem ser consideradas ilegais e inconstitucionais por cercearem o direito à liberdade das pessoas e por promoverem ameaças, maus-tratos, constrangimentos e abusos de autoridade contra os dependentes químicos.
Em nota, a Polícia Civil informou que a operação é uma etapa da Operação Caronte e tem como finalidade «combater o TRÁFICO DE DROGAS (especialmente CRACK), que leva os usuários ao submundo das drogas, com a notória degradação física e mental dos mesmos, os deixando vagar pelas ruas, servindo apenas aos propósitos dos traficantes, até o fim de suas existências».
De acordo com o comunicado, «as diligencias terão o objetivo de dar cumprimento a 31 (trinta e um) mandados de prisão, bem com realizar prisões em flagrante. Os alvos são traficantes que vendem drogas venda a dependentes químicos».
O balanço final da ação não havia sido divulgado até a última atualização desta reportagem.
Denúncia em Corte dos Direitos Humanos
Polícia Civil e Guarda Civil Metropolitana de SP fizeram nesta quinta-feira (19) uma nova operação na região da Cracolândia. — Foto: Bruno Rocha/Enquadrar/Estadão Conteúdo
A deputada Érica Malunguinho (PSOL) protocolou nesta quinta-feira (26) uma denúncia na Corte Interamericana de Direitos Humanos em que acusa o Brasil de violar a Convenção Americana de Direitos Humanos com as operações da polícia contra usuários de drogas na região da Cracolândia.
A deputada argumentou que as intervenções policiais e as operações de limpeza pela prefeitura fazem com que o chamado «fluxo» da Cracolândia se intensifique e se espalhe por diversas regiões.
A deputada encaminhou um requerimento para a comissão solicitando uma medida cautelar para determinar que o Estado proteja e assegure os direitos da população em situação de rua, especialmente das que vivem na Cracolândia.
A denúncia também pede que sejam adotadas medidas necessárias para proteger a vida, a integridade pessoal e a saúde, bem como o direito à posse e à propriedade de bens e documentos pessoais.
Formação de diversos ‘fluxos’
As operações policiais que estão sendo realizadas há cerca de dois meses estão espalhando o chamado «fluxo» da Cracolândia por diversos pontos do Centro de São Paulo.
Em vez de um lugar fixo, quem circula pela região central vê pequenas cracolândias em diferentes endereços desde 22 de março.
Rua no Centro de SP após nova operação policial contra o tráfico de drogas na região da nova Cracolândia, nesta quinta (19) — Foto: Bruno Rocha/Enquadrar/Estadão Conteúdo
Os moradores desses endereços relatam estar com dificuldade de sair de casa. «Eles estão indo para a Frederico Steidel, e da Frederico Steidel eles vêm para a Helvétia. E o fluxo deles aumentou muito na região, ficou perigoso agora, muito mais perigoso do que era», afirma o funcionário de um prédio próximo à Rua Helvétia que não quis ser identificado.
Um vídeo registrado por câmeras de segurança mostra dependentes químicos e traficantes montando barracas do «fluxo» na Rua Frederico Steidel, na Santa Cecília, na noite de segunda-feira (16).
Pelas imagens, é possível ver o momento em que um homem chega ao local com uma mesa e uma cadeira de madeira e começa a arrumar pacotes de cor branca. Em seguida, outras pessoas chegam e se acomodam. Em menos de uma hora, dezenas de usuários ocupam a rua.
Imagens mostram como surge uma cracolândia em São Paulo