Rastro de destruição causada por incendios no Pantanal: animais carbonizados e vegetação cinza.

Jacaré carbonizado, carcaças de animais expostas e o cinza toma conta da vegetação que já foi verde. Esse é o retrato da destruição com os incêndios no Pantanal. O bioma já registra o maior número de queimadas para um mês de junho desde o começo do monitoramento, em 1998.

O biólogo e diretor de comunicação da ONG SOS Pantanal, Gustavo Figueirôa, registrou de perto as cicatrizes que o fogo tem deixado na fauna e flora pantaneira.

O jacaré não conseguiu fugir do fogo a tempo. O que restou foi a carcaça carbonizada do animal sobre a grama acinzentada. «No meio do caminho encontramos um jacaré que não conseguiu fugir a tempo», escreveu Gustavo em uma publicação.

Desde janeiro de 2024, uma área duas vezes maior que o tamanho da cidade de São Paulo já queimou no Pantanal. Nos primeiros 10 dias de junho deste ano, o fogo consumiu o equivalente a 59 mil campos de futebol.

Para chegar aos locais do incêndio, Gustavo teve a ajuda da Brigada Alto Pantanal, que é vinculada à ONG SOS Pantanal. Os últimos registros foram feitos pelo biólogo , na sexta-feira (14), na região do Paraguai Mirim, a cerca de 5 horas de Corumbá (MS).

Quando sentem a presença do fogo, a fuga é eminente, como explica o biólogo. Porém, muitos não conseguem sair da linha das chamas antes de serem consumidos. Os mais afetados são os répteis e os insetos.

De acordo com o monitoramento feito pelo Inpe, 2020 foi o ano que teve mais registros de fogo no Pantanal desde o fim da década de 1990. Um estudo realizado por 30 pesquisadores de órgãos públicos, universidades e ONGs estimou que, naquele ano, ao menos, 17 milhões de animais vertebrados morreram em consequência direta das queimadas no Pantanal.

«Em 2020, tivemos aquele fogo catastrófico e as análises atuais mostram que os números de 2024 estão muito parecidos com os que tínhamos naquele ano. Felizmente, todos os setores e a sociedade pantaneira estão alertas porque têm consciência de que, se nada for feito, há possibilidade da repetição de grandes incêndios. É preciso atuar rapidamente reforçando as brigadas e contando com o apoio das comunidades locais para evitar uma catástrofe», explica Cyntia Santos, analista de conservação do WWF-Brasil

Em outra região do Pantanal, mais próxima a Corumbá, o fotógrafo Guilherme Giovanni também registrou animais que foram mortos pelo fogo. Depois que as chamas passaram, as carcaças dos bichos ficaram expostas e foram comidas por urubus e outros animais.

«É uma área próxima a fronteira com a Bolívia. Os urubus detonaram as carniças. Os focos vem aumentando até mesmo pelos ventos. A população ribeirinha tá sofrendo bastante», comentou Guilherme.

Para quem entende da região, o cenário de 2024 não é animador. A seca e os efeitos do eventos climáticos adversos expuseram o bioma ao fogo com mais facilidade.

Figueirôa, da SOS Pantanal, vê o combate ao fogo como um desafio. Ao longo de três dias, o biólogo pode acompanhar o trabalho de brigadistas, que tentam controlar as chamas de forma incessante.

Até maio deste ano, 332 mil hectares do bioma, que se espalha por Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, já foram consumidos pelas chamas. A extensão destruída já superou em 39% o registrado no mesmo período de 2020, o pior ano da série histórica. Imagens gravadas por equipes que trabalham no combate das chamas mostram a área devastada pelo fogo.

Os dados são do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa-UFRJ). Diante do cenário, agravado pela seca extrema enfrentada pelo bioma, a ONG SOS Pantanal emitiu uma nota técnica.

Para conter as chamas, o tenente-coronel Fábio Pereira de Lima, do Corpo de Bombeiros de Mato Grosso do Sul, diz que estão sendo utilizados aviões para lançar água sobre as chamas e o maior desafio é chegar até as áreas queimadas.

«A região é de difícil acesso para entrada. Uma vegetação alta, uma vegetação fechada, vegetação com área alagada. Então tem água até a altura da cintura, altura do peito. A progressão é muito difícil para chegar até o local do incêndio».

Combate ao fogo

A Operação Pantanal foi deflagrada em abril deste ano e está em seu 73º dia de ação no combate às chamas no bioma. Ao todo, 96 militares estão envolvidos na operação, sendo 83 bombeiros militares do comando de operações e guarnições de combate, 3 bombeiros que operam a aeronave Air Tractor e 10 militares do Exército Brasileiro atuam na operação em conjunto.

Mais de 70 brigadistas do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (PrevFogo) também atuam no combate aos incêndios. Brigadas voluntárias e vinculadas a ONGs também atuam no Pantanal.

O governo federal assinou um pacto com estados para promover uma ação integrada de combate a incêndios e a seca no Pantanal. Apesar do foco no bioma, a norma também estabelece diretrizes para preservação da Floresta Amazônica. O objetivo é garantir a proteção e o combate ao crime nas regiões de vegetação.

Segundo o documento, a prioridade é coordenar a atuação federal e dos estados para «efetivar a prevenção, o controle e o manejo do fogo, de modo a proteger essas regiões de significativa importância ecológica, econômica e social», diz o texto.

Fonte G1MS TV Morena

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